Capitulo 11

Bati na porta do quarto e entrei. Eles tava sentando na ponta da cama, de cabeça baixa, chorando. Me aproximei devagar, sentei e depois abracei ele de lado. 

- Calma. 

- Você ouviu. Acha certo isso? - Ele levantou a cabeça, olhando pra mim.

- Não, claro que não. 

- Eles acham que a filha deles era perfeita. Eu amo Eduarda, mas ela nunca foi perfeita.  

Ele olhava fixo pra um objeto na frente, não movia o olhar.

- Era seu... Filho? - Perguntei, tomando coragem. 

- Desculpa não ter te contado. 

- Era seu filho Luan? 

- Era. - Ele virou pra mim.

- Me conta isso. 

- Eu descobrir faz um ano.

Narrado por Luan. 

Flash back on.

Peguei um banco pra procurar uma caixa de remedios em cima do armario de Eduarda. 

- Aqui mesmo amor? 

- É, ai no armario! - Ela gritou da cozinha.

Subi no banco e tinha apenas uma caixa. Ela era de plastico e tudo mais. Peguei na mão e então puxei. Só podia ser ali. Desci e coloquei na cama, abrindo. Tinha muitas coisas, mas não remedio. Olhei a maioria, mas nada de interessante. abri uma pasta, a cor de um papel me chamou atenção. Era rosa.

- Clinica de Aborto? - Passei os olhos pelo nome. - O que é isso?

Li rapidamente. Era um comprovante de pagamento, datado de um ano atras. 

- Mas a um ano atras a gente já namorava. 

Me lembrei do meu aniversario, onde Eduarda passou mal, mas se recusou a ir ao medico, poucos dias antes da data do documento. Fiquei assustado, sentei e voltei a mexer na pasta. Um exame me chamou atenção, abri e positivo, com a data de um mês antes do meu aniversario. Peguei os dois papeis e fiquei sentado, olhando, sem querer acreditar. Era pra essa criança estar em nossos braços. Deixei lagrimas caírem. 

- Nossa Luan, ainda não achou? - Ela entrou no quarto mais parou ao me ver sentado. - O que é isso? 

- Eu que te pergunto. 

Ela pegou os papais da minha mãe e correndo foi jogando tudo de volta. 

- Você acha que pode ficar mexendo nas minhas coisas? Não pode! 

- Você teve coragem? Como você conseguiu ter coragem? - Me levantei. Olhava pra ela sem acreditar. 

- Luan, não é isso!

- CLARO QUE É! Meu Deus, você matou meu filho! 

- Luan, não era bem assim, era muito pequeno e... 

Avancei nela e apertei forte seu braço. 

- Quem você pensa que é? QUEM TE DEU O DIREITO DE FAZER ISSO? Você é um monstro Eduarda. 

Ela começou a chorar. 

- Calma, eu tomei cuidado e... 

- CUIDADO? CUIDADO COM QUEM? COM VOCÊ? Você não tomou cuidado.

- Eu tive motivos. 

- Motivos? QUE MOTIVOS? 

- Eu estava começando a carreira e uma criança atrapalharia tudo Luan!

- Ridícula. Não consigo acreditar.

Flash back off. 

Narrado por Carolina. 

- A gente brigou muito naquele dia, e terminamos. Mas ela voltou a me procurar, a implorar pra voltar e eu voltei. Eu amava ela. A gravidez toda de Lilian eu fiquei em cima dela. Eu pensava que ela poderia fazer a mesma coisa. - Ele me olhou chorando. - O fato dela ter contado, já me acalmava, mas pensava que talvez ela pudesse provocar um aborto e falasse que era natural. Sei lá, eu tive medo. Mas desde o começo, ela sabia que se perdesse a criança, eu desconfiaria dela. 

- Ela amava Lilian. 

- Amava, isso não é mentira. Mas eu sempre fiquei com um pé atras. 

- Mas por que com a Lilian era diferente?

- Acho que por que, ela não era mais uma iniciante.

- Luan, eu não sei nem o que dizer. 

- Você acha certo? Dai vem esses dois velhos loucos aqui e querem levar ela. 

- Mas eles não tem direito.

- Acho que nunca mais vão voltar. Márcia é muito religiosa, ela não vai aceitar. Eu não queria contar, mais... 

- Foi o certo a fazer. Por que nunca me contou? 

- Eu não contei por medo de ficarem contra a gente. 

- Ninguém sabe?

- Não. Eu não queria que achassem que ela era uma má pessoa. Mas ela era, por que eu também não aceito. Me pego lutando contra isso sempre. Mas eu amo ela, e você e meus pais não. 

- Quem sou eu pra julga-la? 

- Você é perfeita. - Ele sorriu. 

- Não, só justa. Ela não está mais aqui pra se defender. 

- É verdade. 

- Mas... Você vai contar pro seus pais? 

- Não, não. Essa historia morreu com ela. Não devia nem ter sido dita, mas foi necessário.

- Tem certeza? 

- Sim, acabou. Agora eu só preciso seguir em frente. 

- Eu sei que ainda dói pra você Lu. Então, siga em frente sim, mas com calma. Não cobre um progresso, ele tem que ser natural. 

- Vai ser, vai ser. 

Ele virou o rosto na minha direção e me olhou fundo. Ele tinha um olhar do qual não dava pra fugir, mesmo cheio de lagrimas. Ele não desviava, e eu também não conseguia fazer o mesmo. Meu amor falava mais alto, até eu lembrar que era um amor inútil. Virei meu rosto e beijei sua bochecha. 

- Vem, vamos dormir mais um pouco. 

Entrei em baixo da sua cama desarrumada e me ajeitei no travesseiro que ele mais gostava. 

- Mas é folgada essa guria. 

- Por que? 

- Meu travesseiro não! - Ele limpou as lagrimas rindo e engatinhou até o outro lado da cama, entrando comigo e puxando o travesseiro de mim.

- Ah é? Vamos ver então! - Dei um empurram na cabeça dele e puxei. Me ajeitei, virei pro outro lado sobre reclamações e joguei o outro pra ele. 

- Ah Carol! 

- Dorme ai e cala a boca vai! 

Olhei pra babá eletrônica e estava ligada. E logo estava dormindo. 

-

Acordei uma hora depois com o choro de Lili. Uma mão pesava sobre minha cintura. Passei a mão por cima e fiquei curtindo esse toque. Eu nunca sentiria nada melhor. Eu amava ele mais que a mim mesmo e cada aproximação era uma tortura. Tirei a mão dele de cima de mim e me levantei. Era folga da Maria, tomei banhei e me troquei e decidi ir com Lili até a casa dos avós, já que teria que comprar comida. Fui até seu quarto, ela estava acordada. Dei mamá e depois, um banho nela. Fui até o quarto do Luan. 

- Luan! - Mexi nele. 

- Oi. - Ele nem abriu os olhos.

- Vou na casa da sua mãe, e pegar comida pra gente.

- E a Lili? - Ele abriu os olhos. 

- Vai comigo. 

- Ta, cuidado. Não demora. 

- Eu não vou demorar. - Sorri. 

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